Botânico rejeita combustíveis a partir de cereais
Botânico rejeita combustíveis a partir de cereais
O botânico Jorge Paiva já rejeitou a produção de combustíveis a partir dos cereais, por considerar que esta ‘solução’ ameaça a alimentação humana no mundo, admitindo apenas que seja aproveitado o lixo orgânico para fins energéticos.
Jorge Paiva, que em Outubro de 2007 ‘abriu’ o ciclo de Conferências e Palestras dirigidas às escolas do Conselho no Casino Figueira, com uma preleção sobre “As Plantas Bíblicas e a Bíblia”, foi um dos notáveis que o país quis ouvir a propósito da crise no setor alimentar.
“A produção de bicombustíveis deve ser abandonada”, defendeu o ambientalista, catedrático aposentado da Universidade de Coimbra, e investigador do Instituto Botânico daquela instituição.
Em declarações à agência Lusa, Jorge Paiva disse que os bicombustíveis “não são alternativa ao petróleo”, numa altura em que se verifica um aumento do preço desta fonte energética nos mercados mundiais.
“Os bicombustíveis não vão resolver o problema do aquecimento global, uma vez que libertam na mesma dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera”, adiantou, frisando, por outro lado, que tal opção “é brutalmente prejudicial” para subsistência da Humanidade, ao concorrer com o uso de cereais na alimentação.
Jorge Paiva, que tem denunciado a obtenção de combustíveis a partir do milho e outros cereais, criticou “a sociedade economicista e as grandes companhias mundiais, a quem interessa em especial o lucro”.
As multinacionais que incrementam agora o cultivo de cereais “não estão preocupadas em resolver o problema da fome”, querem antes “ganhar mais dinheiro”, apostando nessas produções agrícolas com fins energéticos.
“Descobriram que é mais barato, talvez, produzir combustíveis a partir de plantas. E, como isso dá lucro, subiram os preços dos alimentos”, lamentou.
Na opinião do investigador, “deve ser abandonada a produção de bicombustíveis” baseada na transformação de cereais, sendo necessário que os Estados tomem medidas para reduzir os gastos de energia.
Jorge Paiva entende, no entanto, que deve ser incentivada a produção de energia através do reaproveitamento de resíduos orgânicos urbanos, agrícolas e florestais.
Por outro lado, disse que os recentes avanços científicos da biotecnologia, anunciados “como solução para a fome no mundo”, têm reforçado, sobretudo “os lucros das grandes companhias”.
Admitindo que o problema da fome “é difícil de resolver numa sociedade economicista”, Jorge Paiva preconizou medidas para controlar a natalidade.
“É preciso uma limitação da natalidade. Já não cabemos nesta ‘gaiola global’. Temos a mania que mandamos no mundo, mas o Homem pode entrar em extinção antes de outros animais”, advertiu.